A candidatura de Samir Xaud à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ganha força nos bastidores da entidade. Médico e atual presidente da Federação Roraimense de Futebol, Xaud é o favorito para suceder Ednaldo Rodrigues, afastado da presidência da CBF por decisão judicial. Aos 41 anos, ele conta com o apoio declarado de ao menos 22 das 27 federações estaduais, número que o coloca muito próximo da vitória em uma eventual eleição. No entanto, por trás do discurso de renovação, seu passado desperta dúvidas — inclusive no campo ético.
Um erro grave de Samir Xaud como perito
A princípio, antes de despontar no cenário político do futebol, Samir Xaud atuava na medicina. Nesse sentido, em 2017, enquanto ainda estava credenciado como perito no Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), foi designado para examinar um paciente envolvido em um processo de indenização por danos físicos permanentes. O caso girava em torno de um motoqueiro que, logo após um acidente, sofreu uma lesão permanente no membro inferior esquerdo. Mais precisamente no pé esquerdo.
Designado para confirmar o laudo do Instituto Médico Legal (IML), que já havia atestado a lesão, Samir cometeu um erro que acabou custando caro. No lugar de examinar o local correto — a perna do paciente — ele realizou a perícia no braço esquerdo da vítima. No laudo que apresentou à Justiça, afirmou que não encontrou sequelas graves, visto que no local errado realmente não havia comprometimento. O erro, no entanto, não parou por aí.
Ignora o Judiciário e paralisa o processo
Ao perceber a inconsistência no laudo, a Defensoria Pública de Roraima protestou e pediu que o perito corrigisse o documento. A Justiça começou então a intimar Samir para prestar esclarecimentos e corrigir o equívoco, já que o laudo pericial influenciaria diretamente no julgamento do pedido de indenização por parte do autor da ação.
Porém, mesmo diante de várias intimações ao longo de 2019, Samir não respondeu. Conforme relatos da Vara responsável pelo caso, o médico “vem sendo intimado desde o dia 14.05.2019, ocasionando de forma injustificada a paralisação do processo e atraso no regular andamento do feito por quase um ano”.
A ausência de resposta não apenas prejudicou o andamento da ação judicial, como também feriu os princípios éticos da atuação médica no Judiciário. Em setembro de 2020, a Secretaria de Gestão Administrativa do TJRR decidiu suspender Samir Xaud do cadastro geral de peritos do tribunal por dois anos, medida considerada extrema e rara no âmbito do serviço público judiciário.
Filho do “coronelismo” roraimense
Apesar do episódio comprometedor, Samir se manteve ativo no mundo do futebol. Filho de Zeca Xaud, que presidiu a Federação de Futebol de Roraima por quatro décadas, Samir herdou o comando da entidade estadual em 2017 e passou a despontar como uma figura influente. Ainda que se apresente como símbolo de uma nova geração, sua ascensão está ligada à lógica de sucessão familiar – que é comum em diversas federações estaduais.
Com uma estrutura pequena e calendário pouco competitivo, a Federação Roraimense de Futebol não é exatamente uma vitrine para projetos inovadores. Ainda assim, o cargo confere a Samir um voto com o mesmo peso que os de presidentes de federações mais relevantes, como as de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Porém, é nesse modelo que se sustenta a força política de cartolas de estados menores — e que pode levar Samir à presidência da entidade máxima do futebol brasileiro.
Apoio maciço das federações a Samir Xaud
Por fim, o favoritismo de Samir na corrida pela presidência da CBF tem como base o apoio declarado da maioria das federações estaduais. Ao menos 22 presidentes de federações já confirmaram apoio a seu nome. Isso representa um número suficiente para garantir a vitória em uma eventual eleição indireta.