“A gente é ser humano. A gente erra, acerta e não é por falta da gente querer. Desculpa estar falando isso, nunca fui de me omitir sobre as coisas, mas vivemos um momento onde as pessoas estão mais preocupadas em dar pedradas na gente. Estão preocupados em não ser vencedores e sim tentar humilhar e desrespeitar as pessoas. Acho que isso é muito difícil de mudar, o ser humano está ficando doente em todos os sentidos.”
Essa declaração foi do experiente goleiro Cássio, após a vitória do Cruzeiro sobre o Vasco, dias após falhar diante do Palestino, em entrevista ao Premiere.
Mas poderia muito bem ter sido palavras de Hugo Souza. O goleiro de 26 anos foi alvo de críticas severas e deboches após errar a saída de bola no primeiro gol do Flamengo, marcado por Pedro, no último domingo, no Maracanã.
Ninguém está imune a críticas, é verdade. Mas não estamos pegando pesado demais com o arqueiro alvinegro?

Mais baixos do que altos no Flamengo
Hugo surgiu como titular do Flamengo em 2020 com apenas 21 anos. Logo em sua estreia, foi considerado o melhor em campo no empate em 1 a 1 com o Palmeiras. Mas, desde então, colecionou falhas e problemas extracampo. Rapidamente, foi do céu ao inferno.
Claramente, ele não estava pronto e não foi preparado para assumir tamanha responsabilidade. É o caso de mais um jovem jogador oriundo da periferia que se vislumbra e não resiste às tentações do sucesso e da mudança repentina de status social.
Mas onde estavam os dirigentes rubro-negros e os representantes do atleta neste momento? Pareciam querer jogá-lo aos leões, cada um com seu interesse.
Envolveu-se em polêmicas de possível traição à noiva, festa clandestina em meio à pandemia e ao surgir com um carro de R$ 400 mil pouco após ascender no futebol. Chegou a ter multa rescisória de R$ 70 milhões no Flamengo.
Tudo isso mexeu com a cabeça do jogador. Cometeu excessos típicos de alguém que precisava de acompanhamento para lidar com o sucesso e dinheiro. O que é mais normal do que parece no mundo da bola, mas dirigentes, treinadores e jornalistas parecem ignorar esse fato.
Ajuda psicológica
“Depois de um tempo procurei acompanhamento psicológico, não tem tanto tempo. Geralmente fazia muitas reuniões com meu pastor, que é meu amigo e me ajudava muito nisso. Só que é diferente quando você consegue ser acompanhado por um profissional da área. Tenho um acompanhamento de perto e vejo uma diferença muito grande. Tem me ajudado bastante. Tive que me manter forte porque a pressão no Flamengo é grande. Quando vem as pancadas de fora da torcida e da mídia, é forte. A mesma torcida e a mídia que te colocam lá em cima quando você faz um bom jogo, te derrubam quando você não vai tão bem e não alcança as expectativas. Tenho bons números pelo Flamengo: são 71 jogos e títulos conquistados, mas isso foi fruto de um trabalho. Também tive momentos ruins e falhas como qualquer outro jogador. Comigo tudo tomou uma proporção um pouco maior do que o esperado, mas também porque as pessoas esperavam mais de mim. Tive que me manter forte e procurar ajuda nas pessoas que amo para chegar até aqui e fazer um bom trabalho”, disse Hugo, à ESPN, em 2023.
TORCIDA DO FLAMENGO PREVIU MASSACRE: “Gavião virou galinha.”
Por mais que façam piadas, Hugo Souza é, sim, goleiro de seleção brasileira. Mais cedo ou mais tarde vai ser convocado porque é talentosíssimo. Claro que, para isso, não pode falhar como fez contra o Flamengo e precisa manter uma sequência de boas atuações, como vinha fazendo até o jogo no Maracanã.
Estamos queimando mais um talento
E por ser um selecionável, não podemos queimar um patrimônio do futebol brasileiro. Talvez seja o arqueiro com mais potencial que temos aqui.
Um dos poucos que se preocupam com o ser humano e não só com o jogador de futebol, Fernando Diniz é preciso no diagnóstico.
“Se você não consegue acolher os nossos jogadores mais talentosos, o seu jeito brasileiro de jogar já vai ficar prejudicado. Se a gente perde um John Kennedy, um Sara, e tantos outros… É só ver em Taça São Paulo quantos surgem e quantos vão virar na frente. Esses jogadores costumam dar mais trabalho para a gente, o craque brasileiro. É só você ver o tipo de comportamento dos nossos grandes jogadores. Romário, Edmundo, Djalminha. (…) A gente soube acolher o John Kennedy. Ele testa. Chegou atrasado de novo, não foi, essas coisas do treino, de ser um pouco indisciplinado. Mas a gente conseguiu, na hora que todo mundo ia romper, dar mais uma chance. Teve um determinado momento em que a gente se reuniu e teve aquele negócio: “o John Kennedy não dá mais”. Não, o John Kennedy dá. Se sair daqui, ele vai fazer o quê?”, explicou o treinador, em entrevista ao Ge.com.
Pelo bem do futebol, precisamos refletir como sociedade e amantes da bola: cidadãos, treinadores, dirigentes, jogadores, empresários e o próprio Hugo Souza.