Júnior Santos, o herói Alvinegro: De Conceição de Jacuípe ao Olimpo da Libertadores.
Atacante do Botafogo fala sobre trajetória, inspiração e conquista inédita para o Glorioso. Neste sábado (30/11), em Buenos Aires, o Botafogo alcançou o topo do futebol sul-americano ao vencer o Atlético-MG por 3 a 1 e se consagrar campeão da Copa Libertadores. Em uma atuação emocionante, Júnior Santos brilhou, marcando o gol que selou o título. Após a partida, o atacante deu uma entrevista marcante ao Grupo Globo, destacando sua inspiração em Pelé e Neymar, além de exaltar suas origens humildes e a essência do futebol brasileiro.
“Eu vim dos campos de terra, do baba, como fala lá na Bahia,” disse Júnior, natural de Conceição de Jacuípe. Aos 29 anos, o atacante sintetizou em suas palavras e ações dentro de campo a alma do futebol nacional, onde improviso, ousadia e fé moldam os craques. Ele não apenas representou o Botafogo, mas simbolizou um povo que transforma sonhos em realidade, muitas vezes contra todas as probabilidades.
A essência do futebol brasileiro nos pés de Júnior Santos, o herói
Júnior Santos não nasceu em berço de ouro. Ele começou a jogar futebol nos campos de terra de sua cidade natal, onde a criatividade e o improviso são regras. Emocionado, o atacante lembrou sua infância e comparou a história de Pelé e a luta do povo brasileiro à sua própria jornada. “Quando ninguém acreditava no povo brasileiro, Pelé mostrou que o impossível era possível. Eu carrego essa essência, do baba, da favela, do sonho. Meu futebol é isso: ousadia e alegria.”
Essa mentalidade ficou evidente durante o jogo final da Libertadores. Quando o Botafogo vencia por 2 a 1 e o Atlético-MG pressionava, Júnior Santos fez uma jogada magistral pela direita, que culminou em seu gol. Ele descreveu o lance com entusiasmo: “Parti pela direita, puxei de letra, deixei dois marcadores para trás e dei o passe. O zagueiro cortou, mas eu me joguei, com a cabeça, a alma, o nariz, e fiz o gol. Era raça, fé e futebol brasileiro.”
Não foi apenas mais um gol. Era o ponto final em uma trajetória de superação que começou ainda na fase prévia da Libertadores, onde Júnior foi o principal nome do Botafogo.
O herói do preto e branco: renascimento de um artilheiro e do clube
A relação entre Júnior Santos e o Botafogo é de cumplicidade e recomeço. Após a frustração no Brasileirão de 2023, onde o clube perdeu o título na reta final, Júnior e o Glorioso buscaram redenção na Libertadores. Ele foi decisivo nas fases iniciais, marcando gols em momentos cruciais contra Aurora e Red Bull Bragantino.
No entanto, a jornada não foi linear. Em julho, durante o Campeonato Brasileiro, Júnior sofreu uma grave fratura na tíbia que o tirou de campo por quatro meses. “Foi um momento difícil. Eu era artilheiro do time, estava no meu auge. Mas mantive a fé. Sabia que Deus tinha algo reservado para mim,” relembrou.
Enquanto o Botafogo avançava na competição sem ele, superando adversários como São Paulo e Peñarol, Júnior se dedicava à recuperação. Ele voltou aos gramados em setembro, a tempo de participar do momento mais importante da história recente do clube.
No jogo final contra o Atlético-MG, coube a ele coroar a campanha com um gol decisivo. Após o apito final, emocionado, o atacante tirou a camisa e ajoelhou-se no gramado, enquanto a torcida alvinegra explodia de alegria. “Passou muita coisa pela minha cabeça. Tinha que extravasar. Era o momento de calar a boca de quem duvidou.”
Uma trajetória inspiradora e atípica
A carreira de Júnior Santos é uma lição de perseverança. Começou tardiamente no futebol profissional, aos 23 anos, após anos conciliando a várzea com o trabalho como pedreiro. Ele chamou a atenção no Osvaldo Cruz, da quarta divisão paulista, e passou por clubes como Ituano e Fortaleza antes de chegar ao Botafogo.
Sua primeira passagem pelo Glorioso, em 2022, foi breve. Ele retornou ao Japão, onde jogava pelo Hiroshima Sanfrecce. Contudo, o destino o trouxe de volta ao Rio de Janeiro. Em 2023, Júnior optou pelo Botafogo em vez de aceitar uma proposta do Palmeiras, afirmando que sentia que ainda tinha algo a conquistar no clube carioca.
Essa decisão mostrou-se acertada. Em pouco mais de um ano, ele se tornou o maior artilheiro do Botafogo na história da Libertadores, superando Jairzinho, ídolo da década de 1970. Além disso, Júnior representou uma nova era para o Botafogo, marcada pela chegada de John Textor e pela transformação do clube em uma potência nacional e continental.
O legado de Júnior Santos no Botafogo e no futebol brasileiro
Com o título da Libertadores, Júnior Santos não apenas escreveu seu nome na história do Botafogo, mas também reafirmou o lugar do futebol brasileiro como referência global. Para ele, o segredo está em manter viva a essência dos campos de terra e das comunidades. “Futebol brasileiro é isso: criatividade, improviso e muita fé. Enquanto eu jogar, vou carregar essa essência.”
Agora, o atacante projeta o futuro com humildade e ambição. Ele sabe que sua trajetória ainda está longe do fim e pretende continuar inspirando jovens que, como ele, sonham em superar barreiras e alcançar o topo.
O título da Libertadores de 2024 representa muito mais do que um troféu. Ele simboliza a redenção de um clube histórico, o renascimento de um jogador extraordinário e a força de um povo que nunca deixa de sonhar. Com Júnior Santos no comando, o Botafogo vive seu momento mais glorioso, enquanto o atacante se firma como um dos grandes nomes do futebol sul-americano.