Caso Deyverson: Atacante punido e fora da Final?

Redação

outubro 30, 2024

No dia 29, durante a partida pela Libertadores, Deyverson fo chamado de “mono” – termo pejorativo que, em espanhol, significa “macaco”, frequentemente usado em ataques racistas na América Latina. Ao reagir com gestos para a torcida adversária após sua substituição, o jogador expressou o que muitos veem como uma resposta legítima a um abuso que há muito é naturalizado nas arquibancadas. No entanto, a Conmebol estuda aplicar uma punição ao jogador brasileiro, interpretando a resposta de Deyverson como “provocação” e ignorando, até o momento, a gravidade dos insultos racistas.


Casos como o de Deyverson revelam o caráter desproporcional e seletivo das punições aplicadas pela Conmebol e outras entidades. Muitas vezes, as sanções recaem mais sobre as reações emocionais dos jogadores vítimas de racismo do que sobre as próprias torcidas e clubes que promovem esses ataques. Jogadores negros enfrentam a pressão de se manterem indiferentes aos insultos racistas, sob o risco de serem penalizados caso reajam de maneira espontânea. Essa abordagem revela uma falha estrutural na forma como o racismo é tratado no futebol sul-americano, onde a agressão e a ofensa passam sem reprimendas severas, enquanto qualquer gesto de frustração pode ser punido.

Ao reagir com gestos para a torcida do River Plate ao ser substituído, Deyverson não apenas demonstrou indignação como também deu voz a um sentimento que muitos jogadores negros carregam: a dor e o cansaço por enfrentar atos de racismo frequentes sem receber suporte adequado das autoridades esportivas. Porém, a reação do jogador está sendo interpretada pela Conmebol como uma “provocação”, com a possibilidade de punição contra ele.

Essa interpretação coloca em evidência uma questão preocupante: em vez de se focar no problema principal – os insultos racistas –, a entidade pode optar por punir o jogador, tratando a resposta emocional de Deyverson como uma transgressão. Ao penalizá-lo por reagir, a Conmebol corre o risco de enviar uma mensagem perigosa, onde a vítima do racismo acaba responsabilizada e desencorajada a reagir ou se expressar diante de um ataque racial.

O caso de Deyverson é particularmente simbólico porque ilustra a vulnerabilidade dos jogadores diante do racismo e da falta de um amparo institucional sólido. Quando as federações focam mais nas reações dos jogadores do que nos atos racistas em si, acabam perpetuando um ambiente no qual o racismo é tratado com negligência, e as vítimas, com desconfiança. Essa situação ressalta a necessidade de as entidades esportivas mudarem sua postura e desenvolverem políticas de proteção para jogadores negros, reconhecendo a gravidade do racismo nos estádios e sancionando adequadamente os responsáveis.