“Você pagou com traição a quem sempre te deu a mão…”
A canção da alvinegra Beth Carvalho, mais uma vez, se encaixa perfeitamente no futebol.
A história se repete novamente: um técnico português, da terceira prateleira do futebol mundial, usa um gigante brasileiro como trampolim para buscar melhores salários em outras equipes. Na teoria, nenhum problema. Mas, na prática, a – agora azeda – relação entre Artur Jorge e Botafogo está longe de ser simples assim.
Foi uma lambança atrás da outra. Primeiro, o treinador disse publicamente que tem propostas e espera valorização em vez de resolver internamente. Depois, o empresário dele afirmou que o clube sabia das ofertas, que foram informadas no dia da final da Libertadores (que momento inoportuno!). Agora, o Botafogo soltou uma nota oficial dizendo que Artur Jorge tem contrato até dezembro de 2025, que não recebeu nenhuma procura e que ele ganhará um polpudo bônus pelos títulos.
O português está certo em querer uma valorização, mas tornar isso público, como fez, é lamentável. Ele deve respeito ao Botafogo, que o colocou no cenário mundial e, segundo seu empresário, lhe proporcionou vantajosas propostas de México, Europa (com certeza segundo ou terceiro mercado) e Qatar, em entrevista ao UOL.
Inexperiência, Luis Castro…
Em contrapartida, o Glorioso, cujo CEO tem experiência zero no futebol, como ele próprio revelou à ESPN, também errou ao administrar o processo e soltar essa nota oficial que mais parece uma indireta infantil do que outra coisa. Faltou tato.
Mas o mais errado de todos é Artur Jorge. Mais que isso, nossa subserviência a técnicos estrangeiros, principalmente aos portugueses. Ele veio, venceu Brasileiro e Libertadores, fez história e tem tudo para deixar o clube pela porta dos fundos, assim como fez Jorge Jesus no Flamengo.
Até quando seremos submissos aos europeus e sua postura colonizadora?
Isso lembra muito também os erros na condução na saída de Luis Castro, que também se achou maior que o clube e foi atrás do “sonho” de treinar Cristiano Ronaldo. Hoje, está desempregado.
Depois disso, erro atrás de erro. Lucio Flavio, Caçapa, o também português Bruno Lage, Tiago Nunes… O resultado todos sabem.
Falam muito do comportamento de Abel Ferreira, mas ele não usou o Palmeiras como trampolim. Ou acham mesmo que nenhum clube árabe veio com um caminhão de dinheiro para pagar a multa, dobrar o salário e tirá-lo de lá?
Essa postura submissa dos nossos clubes faz com que contratemos aventureiros de qualidade duvidosa, para falar o mínimo, como Domenéc, Sá Pinto, Álvaro Pacheco, Paulo Sousa e cia.
Até quando?
Até quando ficaremos reféns de passaporte europeu?
Por que, quando surge um brasileiro diferente, como Fernando Diniz, Rogério Ceni e Alex, não temos paciência? Mas adoramos um tupiniquim que enche o time de volante e joga no contra-ataque por uma bola para ganhar de 1 a 0 e garantir o emprego.
Isso é um ótimo ensinamento à torcida alvinegra: não idolatrem qualquer um. O Botafogo seria campeão com outro técnico, sim, porque o trabalho é bem feito, mesmo com muitas falhas, como a inexperiência de Thairo Arruda (que assumiu o cargo de CEO numa espécie de condição por ter ajudado da venda da SAF). Bateu na trave ano passado para acertar em cheio em 2024. Alessandro Brito e Pedro Martins parecem ter dado uma blindagem a ele.
E pode acontecer no futuro com o próprio John Textor, caso resolva vender o clube para lucrar depois de estruturá-lo, o que seria extremamente normal. Afinal, ele é um investidor.
Artur Jorge parece achar que é a estrela solitária do Glorioso.
Alguém avise-o que está longe disso.
Nem Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho ou Túlio se acharam isso.
O Botafogo é maior do que qualquer um.
Principalmente, qualquer treinador.
Que vá para o Catar!
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Texto: Pedro Chiaverini
Fotos: Divulgação/Botafogo
